você não viu nada
abri uma fresta
a noite desceu
a noite desceu
abri meia porta
alvoreceu
alvoreceu
escancarei-a e era dia
você despejou na sala
como quem não queria
beija-flor, primavera, hibisco
ao redor
na relva plantou o pão
na relva plantou o pão
sem ao menos semear o trigo
tudo feito a céu aberto
mariposas acordadas
voando graves
bem perto
bem perto
da minha casa fez cair o
teto
na cozinha fez chá de rosa
fragrante o suspiro
entrecortando nossa prosa
ai, meu chão partido
esse alarido
crepitando como lenha
que eu desejo mais acesa
quanto mais acesa a tenha
é longínqua a minha casa
no alto de um verde opalino
e velho carvalho como menino
fazendo parede sem plano
o surgimento do mundo
se alastrou em um segundo
povoando os meus ermos
foi talvez
por isso mesmo
pela porta desvairada
por isso mesmo
pela porta desvairada
exagerada a profusão
você veio
e não viu nada
não
e não viu nada
não